
Cadê a AGUA?



REPRESA DE SÃO PEDRO:
QUE DE CHUVA E ÁGUA NÃO TEM QUASE NADA
Juiz de Fora faz racionamento de água desde outubro de 2014, devido ao tempo seco e à falta de chuvas na cidade. Os moradores dos entornos da represa de São Pedro aproveitam a situação para questionar os problemas do local.
Foto: Karoline Discaciati
O racionamento em Juiz de Fora foi uma medida necessária para garantir o abastecimento de água por conta do calor, do baixo nível dos mananciais e da estiagem. O nível da represa chegou a 1% segundo um levantamento da Cesama. O racionamento acontece durante a semana em todas as regiões da cidade, cada dia em um bairro.
A Represa de São Pedro é localizada na região oeste de Juiz de Fora. É também conhecida como Represa dos Ingleses ou Cruzeiro de Santo Antônio e fica a 8 km da malha urbana. A represa localiza-se em área particular, cercada pelos bairros São Pedro, Bosque do Imperador e Vina del Mar.
Segundo informações divulgadas pela Cesama no dia 23 de janeiro de 2015 a Represa de São Pedro está operando atualmente com 77% de sua capacidade. Mesmo com as chuvas do mês de Janeiro, o órgão responsável pela distribuição de água em Juiz de Fora afirmou que não houve uma alteração significativa no nível de armazenamento da represa.
Moradora do entorno da represa há 30 anos, Vilma Maria Resende de Aquino diz não ter sido afetada diretamente pelo racionamento por possuir um poço artesiano em sua propriedade. Mas lamentou sobre a situação da represa. “A gente fica chateado, mas não tem muito o que fazer, agora é esperar a chuva. Ela já melhorou [o nível da represa], já teve pior!”. Foi a primeira vez em 30 anos, segundo Vilma, que a represa esteve deste jeito.
Anne Priscila da Costa Jaenick mora no bairro há 15 anos e nos contou que em 2014 iniciou-se o período com maior período de racionamento que ela já presenciou. “É a primeira vez que eu vejo esse racionamento de água que está tendo aqui. Toda época que dá estiagem ela dá uma secada, mas parece que agora foi mais forte. Ela [a represa] não está comportando realmente a quantidade de demanda que está precisando”. Os moradores temem ter problema de abastecimento de água com a chegada de moradores do condômino Aplhaville que está sendo construído no bairro.
Foto: Karoline Discaciati
Mas esse não é o único problema que os vizinhos da represa enfrentam. Devido à falta de água, a represa está totalmente em terra, dando margem para algumas pessoas jogarem lixo. A vizinha da represa Maria da Glória da Costa Jaenick disse que raramente há limpeza no local. “Falta comprometimento do órgão responsável e conscientização das pessoas”.
Um gari, que se identificou como Zé do Barco, também falou sobre a sujeira encontrada tanto na represa de João Penido quanto na de São Pedro. Segundo ele, objetos como tênis, chinelo, bermuda, latinhas e até mesmo um sofá velho foram retirados na limpeza feita nas represas.
O irônico é que em 2013 a situação foi completamente inversa. Os moradores próximos da represa sofreram com alagamentos em suas casas causados pela chuva abundante que fez a represa transbordar. Vilma Resende confirma o caso, relatando que a água chegou a invadir seu quintal. Alguns dos moradores alegaram que os alagamentos ocorreram por causa da construção da via São Pedro, que deveria ter 12 metros de distância da represa e não tem. Leia mais sobre a Via São Pedro aqui. Segundo Maria da Glória, os alagamentos são causados pelo desvio que fizeram do córrego. “Eles desviaram o córrego. O córrego era bem largo. Cimentaram fizeram tipo um funil. Está muito fina a passagem de água. E o que acontece, enche de água, porque a represa tem um excesso de água dependendo da época no ano”.
Alguns moradores do São Pedro fazem o que podem para evitar o problema da falta de água. O uso consciente tem que ser levado em conta nessa situação precária. “Tem gente que é consciente e tem gente que não é”, disse Priscila. Maria da Glória conta como se sente vendo as mudanças da represa. “É triste. Eu que vou sair de ônibus né, ai o ônibus está dando a volta, ai eu olho vejo a quantidade de terra é deprimente. E é uma coisa que a gente está batalhando há tanto tempo. Avisando que a água vai ser o nosso maior petróleo, maior tesouro. E ainda tem pessoas insanas que querem acabar com esse pouco de água doce que a gente tem aqui do lado”. Ela nos relatou que alguns moradores do bairro, ambientalistas e pessoas que aderiram à causa, deram um abraço simbólico na represa em junho de 2010.“Eu vi gente que vinha lá do bairro São Mateus, mas aqui do bairro mesmo pouca gente”, disse Maria.
A Cesama divulgou no dia 11 de dezembro de 2014, através do seu site, que o racionamento de água continuará até o final de Janeiro de 2015. Isso porque a chuva ainda não foi suficiente para encher a represa. O que vale agora é continuar economizando e esperar que o abastecimento volte ao normal, e que a prefeitura tome medidas para contornar os problemas enfrentados pelos moradores vizinhos a represa de São Pedro.




Fotos: Karoline Discaciati
A falta de água na Represa de São Pedro revela o lixo no fundo do leito.
Represa de São Pedro em nível baixíssimo de água.
Com a falta d'água o fundo da Represa São Pedro fica visível.


A situação dos entornos da Represa em 2013, quando houve alagamentos.
Imagens de Anne Jaenick
A repórter Carla Ramalho Procópio esteve na Represa São Pedro em novembro de 2014. Confira o vídeo gravado por ela, dando seu depoimento à respeito da situação do reservatório, assim como a apuração feita no local.